quinta-feira, 18 de março de 2010

Pastoralidade*

Texto institucional da UCB aprovado pelo CONSEPE*
1. Na UCB um dos princípios estruturantes é a pastoralidade. Como definido no Projeto Pedagógico Institucional, na prática da pastoralidade da UCB “não está em jogo uma doutrina, um proselitismo ou uma exigência confessional, mas uma profissão de fé numa instituição que tem como sonho uma humanidade fraterna, solidária e feliz” (PPI p. 18).
2. O conceito de pastoralidade se configura a partir da imagem do pastor, figura marcante na vida e na cultura dos povos da região conhecida como Baixo Mediterrâneo, e que se consagrou no Ocidente a partir do ícone bíblico de Jesus Bom Pastor. Sob essa inspiração a UCB adotou o conceito de pastoralidade como um daqueles princípios que expressam a sua identidade e a sua missão. Por meio dele a UCB quer afirmar que os seus pressupostos são os valores humanos, éticos e cristãos, os quais constituem também o seu ethos.
3. Através da pastoralidade, a UCB, enquanto instituição de ensino superior, quer ser uma presença significativa, cuidando da alteridade, ou seja, da qualidade de vida das pessoas que a compõem e colaborando para o desenvolvimento sustentável do ambiente onde ela está situada. Por isso procura compreender e interpretar a pessoa humana como ser situado num determinado contexto, numa situação histórica, social, política, religiosa e econômica concreta. No exercício da pastoralidade o homem e a mulher são vistos como seres situados num tempo e num espaço e não de forma atemporal ou supratemporal, fora da sua realidade e de sua contextualização. A pastoralidade sinaliza, pois, para a alteridade, o acolhimento, o respeito à subjetividade e a oferta inteira do melhor de nós mesmos e do que fazemos, bem como a busca de auto-transcedência e de transcendência.

A pastoralidade como princípio estruturante
4. Assumir a pastoralidade como princípio estruturante, significa crer que não existe uma pessoa ou uma sociedade já acabadas, constituídas, mas que se constituem “acontecendo”. Significa acreditar que cada pessoa ou coletividade humana não é apenas um passado, ou seja, aquilo que foi até agora, mas é também um potencial que ainda está em construção. A pastoralidade é, pois, abertura, entendida como maneira original de perceber as pessoas não somente a partir do que já existe nelas, mas também, e, sobretudo, a partir do potencial de criação e transformação possível que elas carregam. A pastoralidade significa ver e compreender o ser humano como ser-em-construção.
5. A pastoralidade se expressa no esforço permanente da UCB para viver constantemente a fidelidade à sua missão. Enquanto princípio estruturante leva a nossa universidade a pensar na formação integral da pessoa humana e a realizar uma permanente e qualificada inserção e interação com mundo, sendo cada vez mais presença solidária no contexto onde ela está situada. A pastoralidade a coloca em movimento constante de transformação e de abertura das novas possibilidades de existência.
6. A pastoralidade, no sentido apenas mencionado, se justifica pelo fato de que existe sempre o risco, na dinâmica das relações humanas, de uma interação com o outro que seja pautada por preconceitos dos mais diferentes tipos. Muitas vezes a nossa interpretação se guia por uma visão fixa que, na maioria das vezes, tem presente apenas detalhes ou recortes, recusando-se a ver a totalidade da pessoa.
7. Esta constatação nos leva a perceber, antes de tudo, a necessidade de cultivar uma disposição fundamental para a abertura privilegiada da presença, entendida como preocupação permanente em adequar-se para chegar à compreensão do outro. Isso se chama abertura à transcendência, ou seja, busca permanente de superação de si mesmo para chegar até onde o cultivo da pastoralidade propõe.
8. Abertura à transcendência nada mais é do que a consciência e a convicção de que, enquanto realidade humana, toda instituição passa constantemente por processos de construção. Não é uma realidade acabada. Por essa razão precisa se convencer de que é portadora de um poder-ser que ainda não se realizou plenamente.

Pastoralidade como presença
9. Tendo presente essa constatação, é indispensável que a UCB cultive como sua prática normal a avaliação da sua existência e do seu papel na sociedade. Trata-se do esforço permanente para abrir-se às possibilidades reais de uma nova experiência que transforme a instituição e a leve a aproximar-se o máximo possível da sua finalidade ou missão.
10. Através do cultivo da pastoralidade a UCB quer realizar um mergulho na realidade, no contexto onde ela está situada, de modo que isso lhe confira condições de chegar a ser, de fato, presença no ambiente onde se localiza. Ela está sempre em busca do mais e do melhor. Preocupa-se permanentemente em ser o que deve ser. E como toda instituição é feita de pessoas, é indispensável que cada pessoa que a compõe esteja imbuída dessa preocupação.
11. Para ser o que deseja ser, a UCB precisa, constantemente, na sua totalidade conjuntural, ir além dela mesma, isto é, por meio das pessoas e âmbitos que a constituem, caminhar na direção daquilo que é a meta da sua vocação e missão.
12. Esse esforço é promissor uma vez que proporciona a UCB o desejo de autotranscender-se, descobrindo o mundo real que está em volta dela. Abre, de maneira originária e direta, o seu mundo para o mundo no qual ela se encontra. Tal abertura ou autotranscendência a leva a perceber sua realidade concreta e a ser também aquilo que a realidade pede que ela seja.

Pastoralidade: presença que cuida
13. Podemos então afirmar que a pastoralidade, princípio estruturante da UCB, é, antes de tudo, a consciência de que o atual modo de ser pode ser mais. O modo como se acolhe, se respeita e se cuida das pessoas, enquanto possibilidade, não pode ser pautado por aquilo que sempre foi ou já é, mas por aquilo que pode ser, tendo presente a responsabilidade que nos é confiada. Através da pastoralidade a UCB fará o exercício de progressivamente se abrir ao poder-ser. Somente essa autotranscendência confere-lhe potencialidade, fazendo com que ela não permaneça estranha, indiferente e alheia à realidade.
14. Pelo cultivo da pastoralidade como autotranscendência a UCB não fica à espera de situações extremas para fazer as necessárias mudanças, mas faz da avaliação do seu cotidiano a atitude permanente do seu modo próprio de ser presença. Adotando a avaliação como princípio metodológico ela permite que o esforço e a atuação das pessoas que a compõem tenham uma abrangência maior e sejam capazes de ir além da simples atividade “pastoral”. Tal princípio metodológico lhe permite descobrir seus potenciais e lhe dá condições de oferecer seu serviço não apenas a um grupo confessional, mas a toda humanidade, particularmente aos seus estudantes e às comunidades do Distrito Federal. Um serviço de qualidade que seja também um projeto educacional libertador e transformador, fomentando a prática da justiça social.
15. A pastoralidade, não sendo fim em si mesmo, está voltada para o desejo de ser uma presença que cura, isto é, uma presença que leva a UCB a se tornar uma instituição voltada para o poder-ser das pessoas. Pelo cultivo da pastoralidade ela desenvolve suas possibilidades e potencialidades para ir também ao encontro da comunidade onde está situada, acolhendo suas propostas e sugestões, seus saberes e conhecimentos.
16. Por meio da pastoralidade a UCB revisa de forma permanente a sua estrutura de instituição, de modo que possa abrir-se às possibilidades de um projeto que, transcendendo-se, faça dela um autêntico espaço de humanização, de cuidado com a vida. A pastoralidade lhe permite superar toda forma de amor impotente, isto é, daquele tipo de amor pelo ser humano que apenas seduz e fascina, mas que não é capaz de oferecer nada. A pastoralidade, enquanto princípio estruturante, é o cultivo do amor responsável que contribui efetivamente para a libertação integral das pessoas.

Linhas de ação
17. Para efetivar a pastoralidade a UCB adota para seus professores e funcionários as seguintes linhas de ação:

Quanto ao modo de observar as pessoas:
a) Ter uma maneira original de ver as pessoas, não só a partir do que elas já são ou aparentam ser, mas a partir do que elas podem ser;
b) Ver as pessoas “por dentro”, na sua totalidade e realidade, e não de forma atemporal e supratemporal;
c) Interpretar a situação concreta de cada pessoa e dos contextos sociais, políticos, econômicos e religiosos onde ela se encontra, projetando outras possibilidades dentro de cada situação;
d) Perceber o que realmente está acontecendo com as pessoas, cultivando a sensibilidade e a compaixão;
e) Exercitar a prática da escuta, procurando sempre ouvir o que as pessoas têm a dizer, partindo sempre do princípio de que não existem seres humanos desprovidos de saberes e de conhecimentos.

Quanto ao modo de avaliar as pessoas:
a) Avaliar as pessoas sem se fixar numa posição, numa concepção prévia, num único ponto de vista;
b) Evitar, portanto, se fixar num detalhe, numa particularidade, num único aspecto da vida da pessoa;
c) Ver a pessoa como ser-em-possibilidades, em construção;
d) Compreender a pessoa e elaborar, ou reelaborar, as possibilidades presentes na compreensão.

Quanto ao modo concreto de agir com as pessoas:
a) Acreditar sempre no potencial de cada homem e de cada mulher;
b) Investir cada vez mais nesse potencial;
c) Assumir o compromisso com a qualidade acadêmica da UCB;
d) Cultivar de modo permanente o cuidado com a presença, esforçando-se para abrir-se a novas possibilidades reais e concretas;
e) Esforçar-se para superar o risco da insignificância dos atos, a estreiteza das ações e para descobrir a falta de sentido de determinadas programações e atividades;
f) Superar todo medo da análise existencial e institucional;
g) Esforçar-se sempre para traduzir em ações concretas a missão da UCB, voltada para a libertação integral das pessoas.
h) Assumir de modo permanente o compromisso com a ética e com um tipo de desenvolvimento sócio-ambiental verdadeiramente sustentável e viável.

Quanto ao modo de celebrar a vida:
a) Agradecer e celebrar o dom da vida de cada pessoa que faz a UCB;
b) Agradecer e celebrar a presença de cada pessoa dentro da instituição;
c) Comungar com as alegrias e com as pequenas vitórias de cada pessoa que compõe a UCB;
d) Ser solidário com as dores e os sofrimentos de cada pessoa e de suas famílias;
e) Agradecer a cada pessoa por seus serviços, seus trabalhos e suas potencialidades;
f) Agradecer por suas intuições, suas sugestões, suas idéias, criações e iniciativas.

Além do horizonte
Em sua Carta de Princípios a UCB se define como “comunidade acadêmica de ensino, pesquisa e extensão, articulados indissociavelmente, que contribui, de modo rigoroso e crítico, para a defesa e o desenvolvimento do ser humano e da cultura”. Seus princípios fundantes são: a valorização da vida em todas as suas formas; o respeito à dignidade da pessoa humana e à liberdade pessoal; a busca da verdade e do transcendente; o relacionamento de estima consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus. Seu sonho é a “construção da comunidade, por meio do testemunho solidário do convívio fraterno e da co-responsabilidade”.
A UCB acredita que essa é sua contribuição para uma sociedade à medida do ser humano. Está convencida de que a pastoralidade, nos termos que acabam de ser delineados, é, entre os demais, o caminho mais simples e mais objetivo para atingir essa meta. Espera, com isso, que em 2020, ao celebrar os seus 25 anos de existência, ela possa ser reconhecida em todo lugar como uma Universidade que promove a justiça social e contribui efetivamente para a valorização da vida e dos direitos das pessoas e dos povos.

Para ajudar na reflexão
1. Que elementos desse texto institucional mais lhe chamaram a atenção?
2. O que na UCB ajuda ou impede a concretização dessa proposta?
3. De que maneira podemos tornar efetivo esse texto na docência das duas disciplinas do CREAR?
4. Que outras sugestões você teria para fazer com que esse texto institucional passe da teoria à prática?

2 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa do blog.
    Abraço grande,
    Jorge

    ResponderExcluir
  2. Esse negócio de publicar via atom parece bom.

    http://www.classificadoscorreio.com

    ResponderExcluir